Informe de Psicomotricidade
- Coordenação CES
- 2 de set. de 2020
- 6 min de leitura
Segundo Piaget, 1961 (citado por Fonseca, 1988 p.121): "É pela visão que se integra a atividade motora, perceptiva e mental da criança; e é por meio dela que se estabelecem as ligações dos primeiros esquemas responsáveis pela integração da mensagem, através das quais se dão significações a cada um dos sistemas". A criança cega terá então que fazer uso de outros mecanismos - que não a visão, para estabelecer essas ligações. É neste processo que as atividades psicomotoras poderão estar intervindo. É preciso permitir à criança cega a ação, se ela não vivenciar, não agir, dificilmente irá aprender e se desenvolver.
Vários autores enfatizam a educação psicomotora como alicerce para a educação global da criança. Através dela pode-se favorecer o desenvolvimento, e o controle de seu próprio corpo, propiciando assim o conhecimento de si mesmo e a consciência do mundo que a rodeia. Para que este desenvolvimento global ocorra a criança precisa "agir, falar, constatar, controlar, corrigir e descobrir, para depois interiorizar". (Vayer, 1989)
A criança é um ser global e se desenvolve harmonicamente, de forma que todas as áreas que a constituem, biopsicossocialmente, se interligam e se interdependem.
“As estruturas mentais vão ser construídas pelas crianças, através de suas
possibilidades de interação e ação sobre o meio e pela qualidade de solicitação do
ambiente”(Bruno,1993).
Conforme Bruno, a criança nasce filogeneticamente programada, com estruturas reflexas que, a partir da integração com o meio e do exercício da função, vão, gradativamente, se transformando em reação ou ação. No início do desenvolvimento sensório-motor, o exercício funcional e a organização da ação motora estão relacionados
às experiências proprioceptivas e à ação do sistema visual encarregado de mobilizar com movimentos oculares a cabeça, o tronco e os membros, para realização das reações de busca visual da luz, brilho e objetos que se encontrem em seu campo de visão.
Na criança cega, a busca visual está ausente, comprometendo a movimentação corporal e, por conseguinte, a integração do sistema vestibular, responsável pelo equilíbrio, movimentos harmônicos e postura adequada. Na criança cega, a busca visual está ausente, comprometendo a movimentação corporal e, por conseguinte, a integração do sistema vestibular, responsável pelo equilíbrio, movimentos harmônicos e postura adequada.
Nas primeiras semanas, a sustentação da cabeça, assim como os movimentos
cervicais de extensão e rotação lateral, motivados pelo seguimento visual, são muito
pobres na criança cega. O atraso na aquisição da sustentação cefálica, comum nas crianças cegas, interfere na aquisição das etapas motoras subsequentes.
Como estimular a criança cega no primeiro ano de vida
fazer a criança tocar o rosto do adulto juntando suas mãos ao tocá-lo enquanto este lhe fala carinhosamente;
colocar as mãos da criança na boca do adulto que lhe fala, para que perceba seus movimentos e o sopro próprio do ato de falar;
girar o rosto da criança com as duas mãos falando-lhe de um e outro lado para quese acostume a virar a face e não os ouvidos em direção à fonte sonora;
mudar a criança periodicamente de posição, favorecendo a percepção do seu corpo no espaço;
massagear o corpo da criança com as mãos e também com materiais de variadas texturas: esponjas, tecidos, escovas etc.;
estimular que leve a mão à boca para ser sugada;
fazer com que junte as mãos na linha média, oferecendo objetos atraentes à audição e ao tato, quando em supino;
estimular a extensão e a sustentação da cabeça em prono utilizando objetos sonoros à sua frente elevando-os além do plano da cabeça;
utilizar uma “bola suíça” de tamanho adequado, colocando a criança sentada sobre ela e movimentando-a continuamente de cima para baixo no eixo corporal vertical;
posicionar a criança em prono na “bola suíça” e movimentá-la para frente até que possa apoiar as palmas das mãos no chão e para trás de maneira a tocar as plantas do pés no solo;
utilizar “bola suíça” de tamanho adequado colocando a criança sobre ela variando suas posturas e posições — movimentá-la lentamente para favorecer o equilíbrio corporal e o sistema vestibular;
estimular a rotação cefálica seguindo objeto sonoro em movimento para exercitar a musculatura cervical;
favorecer busca tátil-auditiva dirigida utilizando a extensão do braço;
fornecer objetos variados, atraentes ao tato, de tamanho próprio para suas mãos,com superfícies irregulares e texturas diversas;
favorecer atividades de balanceio para estimulação vestibular dando “significado” a esta atividade, cantando e dançando ou utilizando o balanço. Tomar o devido cuidado para não estimular as estereotipias;
reorganizar a postura da criança continuamente antes e durante qualquer atividade;
colocar-se por trás da criança quando já puder se manter sentada para que acompanhe seus movimentos percebendo de que forma se deslocar. Quando for buscar algo à frente ou para explorar objetos com as mãos por exemplo;
estimular seus deslocamentos corporais no espaço. Para engatinhar podem ser usados rolos; ofereça objetos sonoros colocados à frente dela para que tente alcançá-los;
amarrar pulseiras e tornozeleiras com guizos e movimente seus membros para que
possa perceber e distingui-los;
favorecer para que a própria criança sacuda objetos produzindo os diversos sons;
carregar no colo na posição vertical quando já puder, tomando o devido cuidado com sua organização postural de forma a estimular a sustentação da cabeça e tronco. Varie esta posição colocando-a voltada para a frente, encostada na porção anterior do tronco do adulto de modo que possa perceber o espaço e o mundo à sua frente;
favorecer o contato direto de objetos em seu corpo e incentivar a busca com as mãos;
estimular a procura de objetos caídos de suas mãos. Inicialmente recolocando-os em contato com seu corpo;
estimular a utilização dos seus membros superiores em extensão para proteção;
favorecer mudanças de postura utilizando objeto sonoro ou falando com ela.
Colocar-se a seu lado para estimular o rolar, e acima da criança para que fique de pé.
estimular seus movimentos, movimentando-se junto com ela;
utilizar o “varal” – brinquedos diversos pendurados com elásticos possibilitando seu acesso ao puxá-los e permitindo a percepção do espaço e permanência dos objetos;
falar e cantar com ela durante as atividades. Variar entonações da voz para que possa compreender o que se passa (exclamações, interrogações etc.);
utilizar um objeto intermediário entre você e a criança, estimulando-a a dar alguns passos;
estimular a criança a empurrar objetos grandes, suficientemente pesados à sua frente, para que possa dar os primeiros passos; e,
repetir as atividades com certa freqüência para que possa formar imagem proprioceptiva dos movimentos.
Como estimular a criança cega no segundo ano
Fazer com que compreenda o espaço, limitando-o inicialmente. Usar caixas de tamanho adequado para que possa sentar-se e explorar objetos dentro delas em contato com seu próprio corpo;
incentivar para que ande com as mãos à frente do corpo;
dar objetos variados e pequenos, sempre dentro de caixas com rebordo alto (ex.:peças de jogos);
utilizar jogos simples do tipo colocar argolas grandes em uma haste;
explorar com ela todos os espaços do ambiente observando suas características;
incentivar o trabalho com argila ou massa plástica e a amassar papéis de texturas
variadas, observando seus ruídos (ex.: celofane etc.);
colocar a criança sentada em bancos e cadeiras pequenas, próprias para o seu para correção de sua postura;
sentar-se no chão, de frente para a criança, ambas com as pernas entreabertas, encostando a planta de seus pés, delimitando, assim, um espaço com o próprio
corpo. Rolar uma bola (de preferência com guizo);
identificar partes do próprio corpo quando solicitado;
colocar obstáculos, como fazendo parte de uma brincadeira, para que se desvencilhe com independência;
estimular a subir e descer de cadeiras e móveis baixos, observando para que não ofereça perigo;
estimular a subir e descer escadas com o auxílio;
estimular o uso de suas mãos de forma funcional: para explorar diferentes objetos, localizar-se no espaço e proteger-se de obstáculos;
dar noção de alguns conceitos básicos (sempre em relação a ela mesma): se colocar em cima ou embaixo da cadeira, entrar e sair de caixas, tirar e colocar objetos dentro de caixas etc.;
estimular a busca de um som familiar; e,
promover atividades onde se possa incluir a água como meio de experimentação; bacias com água com objetos diversos (brinquedos de borracha, esponjas) para acriança manipular; utilizar atividades na piscina — a água é excelente meio de trabalho com a criança cega.
Algumas brincadeiras são de fundamental importância para o desenvolvimento da criança cega:
Balanço: Pensando nesse tipo de estímulo, o balanço proporcionado por alguns brinquedos é uma boa maneira para crianças cegas receberem o estímulo que o cérebro precisa para se organizar e se desenvolver de forma otimizada. A ausência do estímulo vestibular pode levar a problemas no processamento das informações sensoriais e, a partir daí, surgirem diferentes sintomas, um deles pode ser inquietude, que os pais podem entender como ansiedade ou problemas comportamentais. Assim, o estímulo vestibular proporcionado pelo balanço pode ajudar. Conclusão: crianças cegas podem se beneficiar de ter oportunidades diárias ou regulares de se balançarem

Instrumentos Musicais (bateria, pianinho, instrumentos de corda…): O legal de instrumentos é não só desenvolver outro sentido como também aguçar o interesse por música enquanto estimula ritmo e outras habilidades importantíssimas que só a música fornece.

Massa De Modelar ou Argila:Esses recursos podem ser trabalhados de várias formas. O importante nesse caso é o contato da criança com esse recurso tátil tão rico em possibilidades de uso.
Falando em estímulo tátil, não podemos deixar de lembrar a piscina. Piscina é sinônimo de alegria para crianças, mas para a criança cega pode ser um desafio tendo em vista o ambiente sensorial diferenciado e a habilidades psicomotoras necessárias para fazer certos movimentos, alguns deles que jamais seriam possíveis fora da piscina. Introduzir e estimular a piscina pode ser bastante rico do ponto de vista psicomotor, ou seja, várias habilidades motoras, cognitivas e sensoriais juntas. Se você não é profissional, use mais uma vez a imaginação e procure pensar tudo o que você sente é precisa fazer para se manter em uma piscina.

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